quinta-feira, 15 de novembro de 2012

CÁRCERE DE JOSÉ




         Depois do voto, ele foi pra casa, pegou os cinquenta reais, dinheiro sujo que recebeu, pra votar num verme da politiqueira imunda.  Chegou à tua casa, olhou de cabeça baixa pra Maria das Dores, a dor fincada na alma de um homem que sempre foi limpo.  Ele que dizia todos os dias ao filhinho, que homem tem ter dignidade.    Pegou os cinquenta reais olhou pra o teu menino:
         - Hoje não vai ficar com fome filho, busca leite e, traz pão.    O menino foi feliz buscar o leite e o pão.  Retornou logo, sentou-se à mesa, o menino, o pai e a mãe.
         O menino curioso estava feliz, mesmo que ainda desnutrido, mesmo que ainda o pão e o leite não fosse suficiente, e sorrindo perguntou ao velho pai:
        - Pai, arrumou emprego?
        - Amanhã vai ter leite novamente?  O pai não respondeu, ficou calado no mundo dele.   José desonrou seu ser, sente-se envergonhado, mas  precisava do dinheiro.
        José havia ouvido dizer na cidade que nas eleições se ganha pra votar.  O homem estava revoltado, tantos anos tentando eleger o Senhor Aparecido, que ajuda na comunidade, faz projetos sociais, ajuda as pessoas, e nunca se elege.     Além de não se eleger, não compra votos.   
       José sabe que é por isso que o Senhor Aparecido não se elege, então não vem emprego, nem bons projetos sociais, porque pessoas como o Senhor Aparecido, quando se elege é apenas um,  no meio de tantos lobos.
       Mas o dinheiro sujo que veio da mão suja do político imundo acabou logo.  José desempregado lembrou-se do vereador que o comprou com cinquenta reais.  
       E lá foi José pedir pra o agora vereador eleito, arrumar um emprego, quem sabe varrer ou capinar um quintal, que fosse tirar as folhas secas do imenso jardim do digníssimo, mas o vereador, sorrindo disse:
       - Um homem que se vende!
       - Como haveria de ser um empregado de confiança?   Sorriu e dispensou o coitado do José. 
       José tentou argumentar:
       - Me ajuda senhor, meu filhinho tem fome, minha esposa esta triste e chorosa.
     - Meu menino não esta bem, por favor. Continuo José argumentando entre soluço e lágrimas. Agora um homem sem honra e humilhado.    
      José, até pensou em ir pedir auxilio pra o Senhor Aparecido, mas bateu dor tremenda, dor que somente quem é honesto sente, quando comete um erro, a dor do arrependimento, da culpa.  José sentiu que traiu o amigo Aparecido, que é honesto, que ama a comunidade e é padrinho de batismo do teu filhinho.
       José voltou pra casa, descorçoado e, desabou na tua cama com os pensamentos virando no espaço da tua alma.  Abraçou tua Maria e os dois soluçaram noite toda, e como pedir auxilio a Deus, depois de ato desonesto, com os ombros pesados de condenação.
       A luz da lua entrou pela fresta da parede de tabua, mas logo veio uma nuvem e a cobriu, e José ficou mais triste:
        - Maria, até a lua se esconde de mim, veja a escuridão do nosso lar.   Jose amargurado.
        Na dificuldade da tua vida,  teu filhinho adoeceu e ele José, levou teu filho ao pronto socorro, não havia médicos no plantão, ali uma fila enorme e pessoas agoniadas, doentes e dores.  
        O filhinho de José, já estava debilitado pela  fome, sem medico o menino não foi atendido.  
           - Meu Deus, salva meu filhinho. José implorou a Jesus.
         - A febre é alta, ajuda meu Deus, meu Deus.   José olhava teu menino, envolto nos teus braços, a mãozinha do filhinho agora enxugava a lágrima do  pai.
        - Pai, pai... A voz sumida...
        - Não chora meu... Paizinho...  Amo... Meu paizinho...   A mãozinha pequena colheu das lágrimas de José, e desfaleceu em mãos postas...
        José gritou no mais alto do teu ser. Seu filhinho expirou, depois de que, por horas a ambulância que levaria teu menino pra outra cidade, não apareceu.  
        José pegou o menino no colo e foi-se pelas ruas, pessoas iam atrás, seguindo de longe.
        - Meu Deus, Jesus, Maria!    Jose gritava cada vez mais alto, chamando tua Maria, José chegou à sua casa com teu menino sem vida no colo e, banhado de lágrimas.   Sua esposa, Maria das Dores desesperou,chorou vendo teu filhinho nos braços de José.
        - Filho, meu menino, acorda, acorda. Silêncio
        - Ele esta dormindo, não esta José? José descabelava, batendo teu próprio rosto.
        - Que há, sou eu filhinho, olha pra mim, sou eu, tua mãe, a mamãe.     É a dor de Maria das dores.   (Você que é eleitor, entende as dores de uma Maria das Dores?).
       - Maria, ele, ele não vai mais falar com você, Jesus o levou, pra o céu. Tornou José, tocando suave o rosto da esposa, mas Maria perdeu o juízo.
         Maria rolou no chão, fazendo de lágrimas e pó, lama.     E atravessou a noite, o casal chorando sobre o menino sem vida.   E nem dinheiro pra o funeral do menino tinham, e José de manhãzinha, foi de alma partida na assistente social pedir ajuda pra enterrar o menino.  
        A assistente explicou que não havia verba, e não poderia ajudar.   José gritou, desacatou a funcionária do lugar e foi preso.   
        Maria ficou lá com o corpo do teu menino, José preso nas grades da tua atitude, encarcerado na tua consciência.   
       Mas os vizinhos deram um jeito, chamou o Senhor aparecido, o homem que não teve mais que trinta votos, e o corpinho do menino foi velado e enterrado, o pai não pode dar adeus a teu filhinho, a mãe não teve o abraço do esposo como consolo e afeto. E o vereador que comprou voto, estava longe com teus filhos sadios brincando no litoral baiano.
        Outros também venderam seus votos, mas cada história é uma, muitos se venderam por cinquentão, outros por cem reais. Pra uns o dinheiro sujo, não    afetou em nada, pois são eleitores sujos.    
         O dinheiro de cada um teve um destino diferente; virou cervejada, churrasco, farra e tantos outros destinos.      Pra alguns era mesmo pra matar a fome da família.      Pra José foi pior, custou humilhação, dor, a falta de médico que salvaria teu filho, a falta de ambulância, a dor da esposa, a traição de um homem de bem, a vergonha de se deixar corromper, a dor de perder um filho, e ele, José na prisão; atrás das grades que agora encarcera tua consciência, a condenação do teu caráter.
        Na cela escura, quando tudo é só, quando não há mais o que dizer ou se justificar. Deus triste na morada celestial observa seus filhos corruptíveis.
          Ainda homem como José,  Deus acalanta, mas mostra o erro, isso vem com dor.   Não de Deus, mas de homens e mulheres que vendem e se vendem, que vendem teus filhos e filhas.   Que no dinheiro sujo da poliqueira se prostituem, se tornam cúmplices da prostituição infantil, da falta de médicos nos plantões, das mortes nos corredores dos hospitais, da droga do ensino público, do encher das cadeias, cúmplices também dos bandidos fora das cadeias, até mesmo são cúmplices da queda da honra de José.
          Maria agora está só no barraco de tabua e lata, a noite veio rapidamente, a lua surgiu no céu, à claridade vazou na fresta da tabua, encontrou o rosto banhado de Das Dores Ao lado, onde é o lugar de José se deitar, apenas um nada, um vazio,  soluço, e lamentos...
           E José no cárcere, deitado no chão frio:
         - Jesus, meu Deus, cuida do meu filhinho, quem sabe ai no céu, um pouquinho, um tantinho só, de leite e mel.

Markus Libra.   16/10/2012





Na política, joguei a toalha... entende?


 

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